quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O privilégio do nosso olhar



Horacio Oliveira, o argentino que buscava um sentido para sua existência em Rayuela (O Jogo da Amarelinha), de Cortázar, passou tardes a observar o amor dos clochards (ou mendigos) às margens do Sena e em outros pontos de Paris. Para muitos, a vida e os hábitos daqueles miseráveis representariam apenas algo repugnante e nojento, mas, para Horacio, significavam muita coisa. Tudo o ajudava a compor o quebra-cabeça da vida.

Saber prestar a atenção nas pessoas que estão ao nosso redor, sobretudo as marginais e as aparentemente mais insignificantes deste mundo, é um dom reservado a raros seres humanos. É bem provável que apenas os artistas, os jornalistas (retratistas ou os que lidam com as palavras) e outros poucos tenham a capacidade de olhar essa gente e descobrir histórias maravilhosas.

O que teria para nos contar, por exemplo, aquele traveco esculpido a silicone barato que faz ponto nas esquinas pobres das grandes cidades? E aquele flamenguista sofrido, sem dentes e com uma imagem de santa nas mãos, sempre presente na geral do Maracanã? Não podemos esquecer também o catador de sucata, que empurra seu carrinho pesado no meio do trânsito caótico, escoltado o tempo todo pelo fiel vira-lata. Além de vários outros personagens que rendem matérias deliciosas.

Há muitas histórias bacanas por trás dessa gente, muitas mensagens por trás de seus gestos. Fica aqui uma dica para os jornalistas iniciantes: nunca desperdicem esse dom, esse nosso olhar privilegiado!

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Chapeuzinho na mídia


Dia desses, recebi um e-mail de uma amiga que mostrava como diferentes veículos de comunicação destacariam uma história de Chapeuzinho Vermelho. O autor é desconhecido, a piada, antiga, mas vale a pena ler.

JORNAL NACIONAL
(William Bonner): “Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem...”.
(Fátima Bernardes): “...mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia”.

BRASIL URGENTE
(Datena): “...onde é que a gente vai parar? Cadê as autoridades? Cadê as autoridades?! A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo, não”.

REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

FOLHA DE S.PAULO
Legenda da foto: “Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador”. Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S.PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo para salvar menor de idade carente.

ZERO HORA
Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.

REVISTA CARAS
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa.

PLAYBOY
(Ensaio fotográfico no mês seguinte)
Veja o que só o lobo viu.

G MAGAZINE
(Ensaio fotográfico com o lenhador)
Lenhador mostra o machado.

SUPERINTERESSANTE
Lobo mau: mito ou verdade?

DISCOVERY CHANNEL
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Esse tal networking


Com a desculpa de rever os amigos e pôr as fofocas em dia, voltei à redação do jornal em que havia trabalhado por anos. O objetivo, na verdade, era fazer o famigerado networking, de olho em alguma indicação para um novo emprego. Meu ex-chefe, aquele mesmo que me mandou embora, continuava por lá, sempre com o jeito bonachão, gente boa, mas com um olhar que não escondia sua alma de carrasco. Apesar do choque nada agradável com parte do meu passado, estava confiante.

Fomos almoçar no restaurante do jornal. Desabituado ao velho menu da firma, que antes me trazia enjôos, até achei a comida boa. Mas descobriria mais tarde que aquela suculenta feijoada não me cairia bem. Bom, pelo menos, desta vez, não descontaram a refeição do meu salário. Meus amigos cuidaram da conta. A conversa começou animada. Nada mais gostoso do que falar mal da vida alheia. Quem está pegando quem, os novos casados, os recém-separados, a nova safra de estagiárias. Os jornalistas não seriam tão bem-informados sem o almoço com os coleguinhas, o fumódromo, o cafezinho...

Mas como jornalista adora uma desgraça, fiquei sabendo também como andava o trabalho no jornal, a redação cada vez mais enxuta, o acúmulo de funções, o temor de um novo passaralho. Diziam que a preocupação era geral, em todas as redações. Desemprego. Salários atrasados. Ameaça de greve. Deixei a velha redação pensativo e um tanto angustiado. Que merda de networking eu fiz!!! Voltei para casa com apenas uma certeza: não esqueceria aquela feijoada tão cedo.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Coisinha de mulher


Luana, sempre muito dada aos homens e às idas ao mar, bem que se esforça, mas o trânsito caótico de São Paulo é realmente imbatível! Na enquete que acabou de acabar – Qual é a manchete mais manjada do jornalismo brasileiro? –, a alternativa “Congestionamento em São Paulo bate novo recorde” venceu com 43% dos votos, superando a opção “Luana Piovani vai à praia com novo namorado”, com distantes 28%.

A próxima enquete tem como ingrediente o amor entre os jornalistas, sejam de sexos opostos ou não. Ficou com cara de revista Nova, “coisinha de mulher”, como dirão alguns amigos, mas, tudo bem, fazer o quê, né? Votem e digam por que é muito mais fácil e comum os jornalistas se apaixonarem entre si.

E uma ótima notícia. Um bondoso juiz acaba de me conceder o direito de, a cada 15 dias, passar um fim de semana com o meu cão Nestor. Iremos ao parque, passear no shopping Higienópolis e comer muitas guloseimas por aí. Enfim, fazer todas aquelas coisas que só pais e filhos separados fazem! O meu até breve.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Jamais passaremos fome


Como diria Euclides da Cunha, “o jornalista é, antes de tudo, um forte”. Se o brasileiro tem jogo de cintura, o jornalista, ou melhor, o jornalista brasileiro tem muito mais. Somos donos de uma capacidade invejável de adaptação às dificuldades, às crises financeiras, às desgraças em geral. Na vida, o jornalista aprende a fazer de tudo para sobreviver. É um profissional múltiplo. Se faltou vaga nas redações, invadimos as assessorias de imprensa, para azar dos relações públicas.

Agora, queremos dominar o show business. Vejamos a edição 2009 do Big Brother Brasil. Na casa, há duas jornalistas e uma assessora de imprensa, as ocupações “oficiais” das moças. Mas todas têm outras atividades profissionais, a mais recente de “atriz da vida real”. São mulheres multifacetadas, que reúnem as mais diversas habilidades e competências exigidas pelo mercado, mulheres que nunca mais passarão fome nesta vida. O Diabo é testemunha.

Priscila, representante do Mato Grosso do Sul, é também modelo (foi garota-propaganda de sex shop) e já admite, no futuro, uma promissora carreira de estrela de filmes pornô. A recém-chegada Maíra, além de jornalista, acumula experiência como maria-chuteira (foi casada com um jogador de futebol) e modelo (já teve o título de mãe mais bonita do Brasil e protagoniza ensaios sensuais na web). Milena, a manauara, atua como assessora de imprensa e promove eventos. Aliás, que tipo de eventos, hein?

Nós temos também um grande poder de mudar radicalmente de profissão. A Juliana Paes, jornalista na última novela das oito, trabalha agora num call center na Índia. Isso que é adaptação à globalização, aos novos tempos. E não esqueçam que esta moça começou como empregada doméstica. Eu mesmo, no choque inicial do desemprego, pensei em levantar uma grana como go-go boy em festas de mulheres quase decentes, mas logo fui desaconselhado por um amigo: “Duda, você go-go boy? Vai ganhar menos que o piso de cinco horas de um jornalista”, me disse, todo cheio de deboche. No fundo, tinha razão.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Inferno de Duda, a continuação


Meus caros amigos, eis a segunda e última parte do meu Inferno imaginário, formado apenas por jornalistas. Caminho cada vez mais para o fundo do buraco, no centro da Terra. A jornada acabou sendo rápida porque meu guia, ranzinza, estava de saco cheio de tudo. A primeira parte está em post abaixo.

5º círculo (assessores de imprensa do mal): este espaço é destinado aos que enviavam releases com informações inverídicas, que vendiam a mesma pauta exclusiva para vários jornais ao mesmo tempo, que ligavam para a redação na hora do fechamento e eram insuportavelmente chatos no follow-up. Como castigo, passam o dia inteiro ao telefone, recebendo propostas de aquisição de cartão de crédito, TV a cabo, assinatura de revistas e filtros de água. Os assessores do bem ficaram no limbo.

6º círculo (vaidosos e competitivos): são os jornalistas que faziam de tudo para conseguir um furo de reportagem, nem que, para isso, tivessem de puxar o tapete de um colega. Sonhavam com prêmios. São os que sonegavam informações aos amigos e se debruçavam sobre a tela do computador para que ninguém por perto descobrisse sua “grande matéria”. Hoje, atuam como rádio-escuta no jornal oficial do Inferno, para ajudar os colegas. O único furo que dão é para o Capeta, mas não precisamos entrar em detalhes aqui.

7º círculo (abutres em geral): local reservado aos jornalistas sensacionalistas, que adoravam alavancar a audiência de seus noticiários explorando a desgraça e a miséria alheias. Têm a companhia dos invasores de privacidade, paparazzi e afins. No Inferno, são condenados a editar um tablóide diário em que reportam os próprios castigos a que são submetidos, tudo com muito drama e sofrimento. Afinal, o Capeta também adora uma imprensa marrom.

8º círculo (mentirosos e caluniadores): é um grupo formado por pecadores de respeito, os principais responsáveis por manchar a reputação da crasse. São os que inventavam matérias, criavam factóides, tudo com um único objetivo: difamar o outro. Sofrem um dos piores castigos: diariamente são publicadas, no jornal oficial do Inferno, notícias falsas que denigrem a imagem destes pecadores. Sem direito de resposta.

9º círculo (vendidos e subornadores): estão no nível mais baixo do Inferno, os pecadores de alta periculosidade. São os que, na carreira, tiveram o rabo preso e serviram apenas a interesses obscuros. Lá também estão os que publicavam informações mediante vantagem financeira e os que subornavam fontes em troca de privilégios. São os que agora ardem nas profundezas. No Inferno, até tentam negociar algum tipo de benefício, mas o Capeta, que é um cara muito do mal, não dá a mínima. Só quer aumentar o tamanho da labareda.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O telefone toca


Sexta-feira, 18h40. O editor grita: “Vinte minutinhos, minha gente, vamos lá”. Me concentro no fechamento de uma matéria de apenas 20 linhas. Mas o repórter escreveu 40. Colocar 40 linhas num espaço de 20 é como uma mulher manequim 42 vestir uma calça 38. É preciso fazer milagre. Sufoco. Cadê a concisão, a objetividade? Estou tenso. O telefone toca.

- Alô, redação.

- Olá, boa tarde! É o chefe da pauta?

- Sim.

- Oi, querido. Quem tá falando é a Josi Gutierrez, da Pauta Legal Comunicação, tudo bem? Qual é o seu nome mesmo?

- Duda, Duda Rangel, mas deixa eu te falar uma coisinha, Josi: a gente tá no sufoco, fechando a edição. É sobre pauta, né? Você não poderia ligar mais tarde, outra hora?

- Eu vou ser super-rápida, meu querido. É que daqui a pouco eu tô indo embora da agência e eu preciso falar com você ainda hoje.

- Mas...

- Duda é o apelido da minha sobrinha caçula. Olha, lindo, não tenho como esquecer o seu nome agora. A Duda tá uma moça, faz aniversário no domingo...

- Mas você não pode...

- Calma, querido. Aliás, acho que você já conhece a gente, não? O nome da agência era Ateliê da Pauta Comunicação, mas aí os sócios brigaram, rolou um barraco básico e eles se separaram. Então, a agência teve de mudar de nome. Mas tá superlegal. A gente tá até com um conceito bem bacana de relacionamento com a imprensa, bem de parceria mesmo, sabe?

- Sei...

- Mas deixa eu te falar da minha pauta rapidinho. Lindo, vocês vão adorar! Notícia superbacana e, olha, vai ser exclusiva para vocês. Só vocês vão dar este furo! Não é legal? Duda, a gente tá divulgando o lançamento do spa mais chique de São Paulo...

- Spa?

- É. E ele tá com uma proposta divina, sabia? Não é só aquela coisa de melhorar a aparência, o lance físico. Rola uma coisa bárbara de resgatar a auto-estima das pessoas, um trabalho psicológico bem diferenciado...

- Peraí, Josi, spa? Você ligou para o chefe de pauta do caderno de Economia! Você tem de vender esta pauta para o pessoal de Saúde & Bem-Estar!

- Ai, querido, jura que eu liguei errado? Me desculpa. Faz um favorzão então pra mim: me transfere pra lá?


Nota da redação: ainda bem que nem todos os assessores são iguais a Josi.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Inferno de Duda


O ócio que vivo nos últimos tempos tem me inspirado muitas reflexões malucas. Ao longo do dia, me afogo em pensamentos surrealistas, interrompidos apenas à noite, quando sento no sofá para ver as gostosas do Big Brother, como disse um tal meritíssimo. Num desses recentes devaneios, imaginei como seria o Inferno de Dante se ele fosse habitado apenas por jornalistas. É, meus amigos, a casa do Capeta ficaria apertada com tanta gente e teríamos de recorrer, com certeza, à distribuição de senhas. E os jornalistas, sabidos que são, abririam mão, neste caso, do famoso Q.I. (quem indica). Mas apenas neste caso.

Resolvi registrar neste blog minha jornada espiritual pelo Inferno, acompanhada por ninguém mais ninguém menos do que Paulo Francis, o meu querido Virgílio. Neste post, apresentarei o limbo, uma espécie de ante-sala do Inferno e os três círculos seqüentes. A história continua num próximo post, com os demais círculos e os pecados mais cabeludos.

Limbo: é o local onde ficam os jornalistas que fizeram algo de louvável, mas que não escaparam do Inferno simplesmente porque escolheram ser jornalistas. São os que denunciaram maracutaias e políticos corruptos, os que fizeram grandes reportagens em defesa da Amazônia e de causas sociais importantes. O local também abriga os críticos que sempre detonaram os livros do Paulo Coelho. Vivem uma vida modesta, bem classe média. Nunca chegarão ao Paraíso, mas também não arderão nas profundezas do Inferno.

2º círculo (luxuriosos, sedutores e sacanas em geral): é onde ficam os jornalistas que sempre tentaram comer as estagiárias gostosas da redação, as estagiárias feias, enfim todas as estagiárias. Há também os que adoravam impressionar as mulheres com o “status” de ser jornalista, no melhor estilo Bozó, da Rede Globo. No Inferno, vivem isolados, sem contato com o sexo oposto. São condenados ao onanismo eterno. Ao chegar, recebem um kit, com uma Playboy da Hortência e um pôster da Dilma Rousseff, com as opções antes ou depois da funilaria.

3º círculo (gulosos): é onde ficam os jabazeiros, gente que adorava um presente sofisticado, uma viagem a convite de alguma agência de turismo, além de vernissages, jantares e bocas-livres em geral. Na morada do Capeta, os únicos presentes que podem receber são cuecas sujas (com muitas freadas) e pijamas com um furo na bunda. Em vez de jantares chiques, freqüentam as festas na laje do círculo, com churrasco de gato, cerveja morna e pagode. Viagens apenas para a praia da Farofa Quente, uma espécie de Piscinão de Ramos do Inferno.

4º círculo (avarentos): é o espaço reservado aos jornalistas que adoravam dar “carteirada” para assistir a eventos esportivos ou espetáculos culturais na faixa. Usavam a velha desculpa de que estavam a trabalho só para não pagar. No Inferno, eles são obrigados a viver em uma casa de shows velha, desconfortável e sem ar-condicionado. O calor passa dos 50 graus. Passam o dia inteiro na frente de um telão, assistindo, repetidamente, a um mesmo show da Banda Calypso. Aos domingos, são obrigados a rever todos os jogos do Vasco do último Campeonato Brasileiro. Tudo de grátis, é claro.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Young Flu


Havia uma questão que muito me intrigava quando eu ainda era estudante: será que tudo que lemos nos jornais ou assistimos na televisão é verdade? Naquela época, eu era um cara desconfiado e, naturalmente, minha primeira resposta à pergunta foi “não”. E realmente nem tudo é verdade, o que não quer dizer também que é tudo mentira. O segredo é ficar atento, questionar, conhecer os veículos de comunicação e não aceitar passivamente todas as informações que recebemos. O mesmo serve para a propaganda. Ou será que alguém ainda acredita que a Xuxa realmente usa o creme hidratante da Monange?

Desde que minha ex me trocou pelo office-boy da firma, passei também a desconfiar das mulheres, mas essa é uma outra história.

No caso da imprensa, existem as grandes mentiras, como a clássica A Guerra dos Mundos, de Orson Welles, que enganou muitos ingênuos. Existe também a verdade distorcida, como a promovida pela mídia ideológica, de Hitler a Chávez. Outros exemplos não faltam, inclusive cá, no Brasil.

Não podemos esquecer ainda das mentirinhas bobas, que, teoricamente, não fazem (ou não deveriam fazer) mal a ninguém. Em minha trajetória pelas redações, conheci e ouvi falar de jornalistas que inventavam nomes de personagens e, em casos piores, declarações.

Certa vez, numa Copa do Mundo, um jornalista precisava redigir a escalação da seleção de futebol da Coréia do Sul. Ao terminar, notou que só tinha 10 nomes. Percebeu que havia vários atletas com o nome Young, talvez uma espécie de Silva por lá. Não bobeou e acrescentou o craque Young Flu ao escrete coreano. Para quem não sabe, Young Flu é o nome de uma torcida do Fluminense. Antes de cometer tal "delito", o criativo jornalista deve ter pensado: “quem é que conhece a porra da escalação da Coréia do Sul?”

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Balzac e a geração Y


Me dei conta, pela primeira vez, de que estava ficando velho ao notar que o rádio do meu carro ficava sintonizado, quase sempre, na Alfa FM. Para quem não conhece, é uma rádio que toca hits como Smooth Operator, da Sade. Enfim, rádio de velho. Dias atrás, tive uma nova e triste prova de minha idade avançada. Encontrei minha ex num parque, com seu office-boy. O rapaz tinha um iPod, a tal barriga tanquinho e uma bermuda de cintura baixa, que revelava, sem pudor, a cueca. Sim, aquela era a geração Y, a que iria me engolir.

Eles se aproximaram para conversar. Tive pensamentos cruéis e a vontade de soltar logo de cara uma pergunta bem sacana, do tipo: “E aí, tudo bem? Foram ao show do NX Zero ontem? Curtiram?” Mas não perguntei. O máximo que disse foi um “prazer” ao ser formalmente apresentado pela ex como “Carlos Eduardo, meu ex-marido, o jornalista”. Quando ela falou “o jornalista”, senti que o moleque torceu o nariz. Disse que não se lembrava de ter me visto em TV alguma. Decerto, me imaginava um cara famoso. “Sempre trabalhei em jornal impresso”, expliquei. Mas ele contou que nunca lia jornais.

Quis mostrar à ex que minha vida seguia a todo vapor (coisa de gente separada) e falei do sucesso do blog que tinha criado para discutir a carreira e as relações humanas. Disse, em tom de brincadeira, que falava mal dela nos posts, mas bem de leve. Ao mencionar o nome do blog, o office-boy se espantou. “Desilusões perdidas? Caraca, véio, de onde você tirou isso?” Respondi que havia me inspirado no Balzac, e o garoto completou: “Ah, tô ligado no Balzac, aquele remédio que os doido usa.” Sorri, aliviado. A geração Y não me engoliria tão cedo.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Cachaça: o analgésico dos jornalistas


A primeira pesquisa deste blog - Você é a favor do diploma de jornalista? - foi encerrada no último domingo, marcada por uma disputa muito dura, pau a pau, do jeito que o Ronaldo Fenômeno gosta (ouvi esta piada dias desses).

A alternativa "Não. É muito caro. Prefiro gastar meu dinheiro em cachaça" ganhou com 42% dos votos, uma ligeira vantagem em relação à opção "Sim. Ele me daria direito a uma cela especial na prisão", que teve 38%. Ou seja, praticamente um empate técnico. Meu amigo Ortiz me disse que o resultado foi óbvio. "A cachaça é o analgésico dos jornalistas", filosofou. Quanto ao medo da cela comum, é aquela velha história: quem manda caluniar geral ou deixar de pagar pensão pra ex-mulher?

Uma nova enquete está no ar a partir de hoje e receberá votos nos próximos 15 dias - Qual é a manchete mais manjada do jornalismo brasileiro?. Participem. E, se vocês tiverem outras manchetes manjadas que não figuram entre as opções deste blog, não hesitem em escrever. Um grande abraço.